Os deputados do principal partido na oposição, a UNITA, que se juntaram à manifestação convocada pelo grupo político denominado PRAJA-SERVIR ANGOLA, cuja legalização, entretanto, fora rejeitada pelo Tribunal Constitucional, também não foram poupados. Há, inclusive, imagens do deputado Américo Chivukuvuku, irmão mais novo de Chivukuvuku, estatelado no chão e algemado com as mãos atrás das costas por polícias destacados no terreno.
Não sendo novidade para ninguém que Angola faz parte da lista dos países menos democráticos do mundo, onde o Governo controla rigidamente a liberdade de expressão, os media e os direitos cívicos e políticos contrários àquele que professa o partido governante, o MPLA, gostaríamos de destacar um facto inédito.
Pela primeira vez, desde a implantação da democracia multipartidária em 1992, os agentes da Polícia Nacional e à paisana (que se presume pertencerem aos serviços secretos) não se incomodaram com a presença dos jornalistas. Dito de outro modo, não colocaram bloqueio ao exercício da liberdade de imprensa. Nenhum jornalista foi admoestado ao captar imagens e ou entrevistar os detidos. Mesmo quando estes estavam a ser levados e seguidamente colocados na patrulha, os jornalistas continuaram a captar imagens, a registar as declarações dos detidos, assim como fotografando e filmando quer os detidos quer os polícias. Algo inédito na antiga colónia portuguesa. Até parecia estarmos diante de polícias noruegueses…
Como podemos ver, senhor Presidente, é possível governar sem restringir a liberdade de imprensa. É possível governar sem reprimir os direitos dos seus opositores, como, por exemplo, Abel Chivukuvuku. Em ultima ratio, como diria José Ivo Satart, não é possível “imaginar que alguém queira governar ou representar a população sem ouvir o que ela tem a dizer”.
Portanto, senhor Presidente, como vê, depois de sábado, o Governo continua o mesmo; Vossas Excelências continuam em funções na Cidade Alta; os deputados continuam em funções; as instituições do Estado continuam a funcionar normalmente. O MPLA continua a ser o partido no poder. Os jornalistas cobriram as duas manifestações, sem qualquer intimidação ou admoestação, e o mundo não acabou!…