Em Foco

Israel nega “animosidade” nas relações diplomáticas com Angola

01-12-2022 1:28

Clinton Manuel

Jornalista estagiário

01-12-2022 1:28

Clinton Manuel

Jornalista estagiário

Shimon Solomon, representante em Angola do país do Médio Oriente, convidou, para a sua residência protocolar, jornalistas de diversos órgãos de comunicação social para transmitir o estado das relações bilaterais entre Jerusalém e Luanda

Não existe e não existiu nenhuma animosidade entre Angola e Israel na sequência da cedência de um visto ao líder da UNITA, o maior partido na oposição, Adalberto Costa Júnior, que em vésperas das últimas eleições gerais em Angola se tinha deslocado àquele país do Médio Oriente com o objectivo de contratar uma empresa especializada em vigilância electrónica e fraude eleitoral.

A nega veio do embaixador de Israel em Angola, Shimon Solomon, em resposta a uma pergunta feita pel’O Telegrama, no encontro que manteve com jornalistas e entidades diplomáticas e funcionários consulares.

O diploma israelita, de origem etíope, contrariava assim as versões que circulavam, há já algum tempo, dando conta de que o Estado angolano teria atrasado a sua acreditação como novo embaixador de Israel pelo facto de o seu país ter concedido visto ao principal opositor do partido que suporta o Governo, o MPLA, e do Presidente João Lourenço.

O diplomata do Oriente Médio realçou, antes, a pertinência da pergunta, para esclarecer as especulações que se levantaram em torno deste tema.

“O papel da Embaixada é cultivar boas relações diplomáticas entre os dois países e, no caso dos estrangeiros que queiram visitar o nosso país, procuramos saber o que uma pessoa pretende realmente com a visita, desde que o requerente cumpra com todos os requisitos, que são categoricamente simples e claros”, disse o diplomata, acrescentando que, cumpridos todos os requisitos, “não vê razões para negar um visto a qualquer angolano que queira visitar Israel”.

Explicou, por outro lado, não ter sentido “demoras no processo da sua acreditação” e que “toda burocracia aconteceu no prazo apropriado e de modo normal”.

Relatos de um alegado ressentimento ou frieza nas relações bilaterais entre os dois países foram veiculados em diversos mídias locais e internacionais, após a UNITA ter contratado a consultora israelita Adi Timor, uma empresa ligada a “ex”-elementos dos serviços secretos israelita a Mossad, para assessorar a sua campanha eleitoral. A Rádio Internacional Francesa (RFI), por exemplo, chegou a noticiar que o Governo angolano teria manifestado incômodo, alegando que se tratava da contratação de espiões e não especialistas eleitorais.

O peso israelense na balança das exportações angolanas

Em Angola desde princípios de Março, sendo esta a sua primeira missão como embaixador, o diplomata pretendeu com a referida colectiva de imprensa abordar as questões de carácter bilaterais, o fortalecimento dos laços de proximidade entre os dois países, explorando outras áreas de cooperação, como a criação de investimento no sector do turismo, além das já existentes no capítulo da segurança e agricultura.

No encontro, participaram ainda duas entidades, via zoom, do Ministério das Relações Exteriores de Israel, nomeadamente o vice-director-geral para Mídia e Diplomacia Pública, embaixador Emmanuel Nacshon, e a directora do Departamento da África Austral, Belaynesh Zevadia.

Luanda e Jerusalém mantém relações diplomáticas desde 1993 e, segundo os últimos dados divulgados em 2018 pelo Ministério das Finanças, a dívida pública de Angola para com Israel representava cerca de 8% da dívida externa, com quase 3 mil milhões de dólares. Números que foram garantidos pela Companhia de Seguros de Risco de Comércio Exterior de Israel (ASHRA), que tem vindo a assegurar alguns dos fornecedores daquele país a projectos angolanos.

Até ao ano de 2018, a dívida pública angolana para com Israel era a segunda maior por país, apenas atrás da China. Na altura, os números surpreenderam o então embaixador Oren Rozenblat, que em entrevista à agência Lusa, disse que os desconhecia.

“Eu desconheço. Só sei de 250 milhões de dólares que o Estado de Israel deu para Angola, especialmente na área da agricultura. Sobre outros números, eu não sei. Não é dívida para com o Estado de Israel, com certeza”, afirmou Rozenblat, o antecessor de Solomon.

Partilhar nas Redes Sociais

WhatsApp
Facebook
Twitter
Email