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Por que o Presidente de Angola faltou à cimeira do seu maior credor?

04-09-2024 8:39

Bunga Bernardo

Editor de Economia & Oil

04-09-2024 8:39

Bunga Bernardo

Editor de Economia & Oil

Nesta quarta-feira, Pequim foi palco do Fórum para a Cooperação China-África (FOCAC), um evento de relevância estratégica que reúne diversos líderes do continente africano. Angola, que tem o gigante asiático como o seu maior credor, não se fez representar pelo Presidente da República, delegando o seu ministro das relações exteriores, Téte António. Esta decisão destaca-se no contexto diplomático, suscitando interpretações sobre as prioridades do governo angolano nas suas relações internacionais. Ao O Telegrama, representação diplomática de Xi Jinping em Luanda promete pronunciar-se

O comércio entre a China e a África tem aumentado de forma substancial, com a China emergindo como o maior parceiro comercial do continente nas últimas duas décadas, aumentando a escala de importações e exportações. O comércio de bens concentra-se principalmente em commodities, onde os países africanos exportam recursos naturais como petróleo bruto, cobre refinado, minério de ferro e alumínio para a China.

Em contrapartida, a China exporta para a África produtos manufacturados, como equipamentos de telecomunicações, tecidos e calçados.

De acordo com a Administração Geral das Alfândegas (AGA) da China, entre 2000 e 2023, o volume do comércio China e África aumentou de menos de 100 bilhões de yuans (US$ 14,08 bilhões), a moeda chinesa, para 1,98 trilhão de yuans, representando uma taxa de crescimento anual média de 17,2% – superando em 4,6 pontos percentuais o crescimento médio anual do comércio total de bens da China no mesmo período.

A China desempenha um papel crucial na arquitectura financeira internacional de Angola, destacando-se como o principal credor bilateral do país. Essa relação de dependência financeira é evidenciada pela predominância dos créditos chineses, que representam aproximadamente 74% do valor total de empréstimos bilaterais concedidos a Angola. Uma concentração que revela não só a intensidade das relações China-Angola no âmbito económico, mas também sublinha o peso estratégico que o gigante asiático exerce sobre a sustentabilidade fiscal de Angola, moldando, em grande parte, as suas políticas de gestão da dívida externa e influenciando as suas decisões económicas no cenário global.

No contexto das relações comerciais internacionais de Angola, a China consolida-se como o principal parceiro económico do país. Em 2023, essa parceria foi particularmente expressiva, com a China assumindo um papel dominante tanto no fluxo de importações quanto de exportações.

Especificamente, a China foi responsável por 15% do total das importações angolanas, evidenciando a sua relevância como fornecedor de bens essenciais. Ainda mais significativo, porém, foi o peso das exportações de petróleo bruto para a China, que representaram 57% do total das exportações de Angola, reflectindo uma relação de interdependência comercial em que a economia angolana está profundamente vinculada ao mercado chinês. Este cenário sublinha a importância estratégica da China no comércio externo de Angola.

“João Lourenço deixa Angola mal na fotografia”

Vários analistas consultados pelo O Telegrama convergiram. Tendo em conta o papel do FOCAC na agenda externa da China, a ausência do principal credor externo provoca ruídos.  “A China, quando fala de África, olha para o país em que mais se apostou. Quem mais recebeu dinheiro, e penso que esta ausência do Presidente João Lourenço deixa Angola mal na fotografia”, disse um membro do Conselho Nacional de Concertação Social, órgão especializado de auscultação do Titular do Poder Executivo.

Bernardo Vaz, professor de economia na Universidade Agostinho Neto e investigador do Centro de Estudos Económicos da Universidade Lusíada de Angola, acrescenta:

“Devíamos ter memória, porque, em 2020, em plena COVID 19, os chineses deram-nos uma moratória dos pagamentos da dívida, e esta ausência pode soar mal para os chineses. Imagina que, amanhã, voltamos a ter um novo choque externo?”, questionou Vaz, tendo, depois, afirmado que “devíamos ser inteligentes e não andar à reboque de ideologias por estarmos com os Estados Unidos”.

O Telegrama procurou comentários da embaixada chinesa em Luanda, mas esta prometeu pronunciar-se nesta quinta-feira (05.09).

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