O documento, que projecta consequências dramáticas para a segurança hídrica e alimentar, aponta África como uma das regiões mais vulneráveis, onde cerca de 20% da população poderá enfrentar escassez hídrica crítica, testemunhando a interligação entre alterações climáticas, fragilidades institucionais e riscos humanitários crescentes.
Somália, Namíbia, Zimbábue, Mauritânia e África do Sul figuram entre os países mais expostos ao risco de seca em todo o mundo, segundo a actualização do Índice de Risco INFORM, uma ferramenta internacional que avalia a probabilidade e o impacto de crises humanitárias. Os cinco países africanos apresentam pontuações superiores a 9 pontos, o que os coloca na categoria de risco extremo.
O relatório também destaca que outras nações, fora do continente africano, enfrentam um cenário igualmente alarmante. Entre elas estão Iraque, Síria e Afeganistão, todos acima do limiar de 6,9 pontos, definido como “risco muito alto”.
Algumas das conclusões do relatório o Estado do Clima na África 2024 destaca que esta é a década mais quente para a África desde que os registos foram iniciados. A temperatura da superfície do mar atingiu seu nível recorde no ano passado. O relatório também faz menção que cheias e secas destruíram subsistências e comunidades em várias partes do mundo. E fenómenos climáticos como El Niño tiveram um papel nesse resultado.
No caso do sul da África, as condições de seca especialmente no Malawi, na Zâmbia e no Zimbábue levaram as piores estiagens das últimas duas décadas. Com isso, plantações de cereal ficaram 16% abaixo da média de cinco anos. No caso de Zâmbia e Zimbábue, a redução ultrapassou 43%.
No leste da África, que registou chuvas longas e pesadas, de Março a Maio de 2024, houve cheias no Quênia, na Tanzânia e no Burundi. Centenas de pessoas morreram e mais de 700 mil foram afectadas.
O ano passado foi terceiro consecutivo com colheitas abaixo do nível esperado por causa de chuvas pesadas e temperaturas extremamente altas. A produção do Marrocos, por exemplo, caiu 42% abaixo da média do quinquênio após seis anos seguidos de seca.
O Índice de Risco INFORM, concebido pelo Centro de Conhecimento de Gerenciamento de Risco de Desastres, surge como uma das ferramentas mais sofisticadas para a leitura antecipada de vulnerabilidades globais. O índice é também um instrumento de governança global, na medida em que orienta decisões que podem redefinir a capacidade de reação de nações inteiras perante cenários adversos.